59. ESTAR À CUNHA

Várias expressões usadas para descrever locais cheios de pessoas.


No podcast da semana passada falámos da expressão ter ou meter uma cunha usada para descrever uma situação em que pedimos a alguém para nos fazer um determinado favor ou interceder por nós quando queremos obter algum benefício e fiquei curiosa — será que no Brasil também têm a mesma expressão ou usam outra?

No Brasil, não dizemos meter uma cunha mas falamos em compadrios. A palavra faz referência a um forte relacionamento entre pessoas que podem ou não ter laços de sangue isto é pertencer ou não à mesma família. Quando alguém que ocupa um lugar, geralmente no meio político, onde tem poder de decisão, e essa pessoa intercede a favor de alguém (que pode ser um amigo, um familiar ou um simples conhecido a quem se deve um favor), então estamos perante uma situação de compadrio. Há também muitas pessoas que são chantageadas a favorecer outros porque têm o rabo preso ou melhor dizendo porque têm algum segredo que não querem ver revelado.

Que interessante! A palavra compadrio também é usada em português europeu com o significado de proteção injusta ou exagerada mas nunca ouvi a expressão ter o rabo preso… Acho, no entanto, que se percebe bem o que a expressão sugere.

Ah, pois é! A imagem que sugere é bastante mais óbvia que a relação entre cunha e a expressão estar à cunha usada para descrever qualquer coisa que esteja completamente cheira.

Realmente não há nenhuma relação lógica entre o objeto e a expressão, mas se imaginarmos um local onde está tanta gente que se torna difícil fechar as portas — tal como acontece quando usamos uma cunha de porta — então torna-se mais clara.

Como por exemplo o metro ou o ónibus na hora de ponta em que as pessoas se empurram para conseguir entrar e fechar as portas, é isso?

É isso mesmo. Podemos dizer que “nas horas de ponta, o metro está à cunha.”

Mas existem muitas outras expressões para descrever essas situações em que um determinado local está particularmente cheio de gente.

Para além de estar à cunha, também podemos dizer estar à pinha ou apinhado de gente. Pinha é o fruto do pinheiro e a expressão está relacionada com o facto de ser tão compacto. Apinhado quer dizer juntar, encher, amontoar e é sinónimo de empilhar ou guardar uma coisa em cima de outra e a imagem é de um número tão grande de pessoas que para caberem num determinado espaço precisam de se empilhar ou apinhar umas em cima das outras…

Em Portugal também dizem serem mais que as mães para descrever multidões?

Esse é um idiomatismo extremamente informal ou coloquial. Mas o seu uso apresenta uma pequena nuance em relação às outras que acabamos de explicar.

Qual é essa ligeira diferenciação?

Enquanto as primeiras expressões só descrevem a multidão presente no local, esta sugere surpresa em relação ao número pessoas presentes. Quando usamos esta expressão não estamos apenas a dizer que havia uma multidão no local mas que aquele número de pessoas nos surpreendeu ou melhor dizendo que não estávamos à espera de encontrar tanta gente como acabamos por encontrar.

Já percebi. No domingo passado, fui à praia pensando que a iria encontrar deserta devido ao mau tempo e fiquei surpresa quando afinal encontrei uma competição de body board e os concorrentes que estavam dentro de água à espera de uma onda eram mais que as mães.

É isso mesmo! Excelente exemplo de uso da expressão!

E que exemplos podemos dar das outras expressões?

Hoje o supermercado estava apinhado de gente porque estavam a fazer promoções incríveis.

Essa expressão pode ser substituída pelas outras sem mudar nada na frase. Podemos dizer:

Hoje o supermercado estava à pinha porque estava a fazer promoções incríveis.

ou

Hoje o supermercado estava à cunha porque estava a fazer promoções incríveis.
 

E já agora aproveito para te perguntar: sabes qual é o oposto destas expressões?

A expressão que descreve um local completamente vazio de pessoas? Estar às moscas!

Precisamente! Só falta dar um exemplo de uso:

O bar da minha rua está às moscas na maior parte dos dias, mas ao sábado os convivas são mais que as mães.

OUTRAS EXPRESSÕES MENCIONADAS
à pinha
às moscas
apinhado de gente
preso pelo rabo

ter compadrios

Podcast produzido por Cristina Água-Mel e Sónia Santos.

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