SUBJUNTIVO FUTURO

QUANDO USAR

Considerando que no quadro das línguas românicas, apenas o Português e o Galego retêm este tempo verbal, poderá ser difícil para os/as aprendentes de Português Língua Estrangeira compreender as situações em que deve ser empregue. No entanto, o seu uso é quase tão simples como corrente. Apesar deste tempo verbal poder ser frequentemente substituído por outros tempos verbais sem alterar significativamente o significado da mensagem, a verdade é que os portugueses continuam a usar o subjuntivo futuro em todos os contextos e registos de língua.
A primeira coisa que devemos reter é que o subjuntivo futuro descreve uma hipótese inverificável no futuro.
No Espanhol, e tal como sucedeu na língua inglesa, o subjuntivo futuro já quase que desapareceu do uso corrente. À data da redação deste texto podemos dizer que, o subjuntivo futuro apenas se usa em provérbios como:

Allá donde fueres, haz lo que vieres. 

Onde fores, faz o que vires fazer.


ou registos extremamente formais como, por exemplo, o da justiça:

Estás ahí para observar, y denunciar, si las hubiere, todas las irregularidades que veas.

Estás aí para observar e denunciar, se as houver, todas as irregularidades que vejas.


Como prova da gradual substituição do subjuntivo futuro pelo presente no Espanhol moderno podemos mencionar a construção subjuntivo presente + elemento de ligação que, tal como ainda acontece em Português, costumava ser seguida do subjuntivo futuro e que, hoje em dia é, com frequência, substituído pelo presente como atestam os seguintes exemplos:

Sea como fuere    [considerado como antiquado]

Sea como sea        [uso atual]

Seja como for

Hagas lo que hagas

Faças do que fizeres

Digas lo que digas

Digas o que disseres

Venga quién venga

Venha quem vier

Estea quién estea

Esteja quem estiver

Em Português, e mesmo nos casos em que é possível substituir o subjuntivo futuro por outros tempos verbais sem alteração do significado da mensagem, tal não está a acontecer. Note-se, inclusivamente, que o subjuntivo futuro é usado de forma tão habitual e rotineira, que o recurso a outros tempos verbais — ainda que possa estar gramaticalmente correto — soa estranho aos ouvidos de um falante nativo.
Resumindo, usamos o subjuntivo futuro para descrever uma condição ou hipótese futura depois de SE e QUANDO

Se vieres a Lisboa, vem visitar-me.        [forma mais comum]

Se vens a Lisboa, visita-me.             [indicativo presente]

Quando chegarem a Lisboa, telefonem-me.     [forma mais comum]

Quando cheguem a Lisboa, telefonem-me.     [subjuntivo presente]

E ainda introduzido por LOGO QUE, ASSIM QUE e ENQUANTO

Logo que puder, telefone-me.

Logo que possa, telefone-me. [subjuntivo presente]

Assim que acabarmos, vamos beber uma cerveja.

Assim que acabemos, vamos beber uma cerveja. [subjuntivo presente]

Enquanto estiveres a tomar antibiótico, não deves beber álcool.

Enquanto estejas a tomar antibiótico, não deves beber álcool. [subjuntivo presente]

Por último, o subjuntivo futuro é também usado depois de COMO, QUEM e O QUE — como na famosa canção dos Madredeus1

Faz como entenderes.

Faz como entendas. [subjuntivo presente]

Quem tiver tempo, leia o artigo.

Quem tenha tempo, leia o artigo. [subjuntivo presente]

Cozinha o que quiseres.

Cozinha o que queiras. [subjuntivo presente]

Este tempo verbal é igualmente usado em orações do tipo:
Faremos o melhor que pudermos.
Quanto mais depressa sairmos, mais rápido chegaremos a casa.

Tendo em conta o uso generalizado deste tempo verbal na linguagem corrente, não surpreende que o discurso publicitário e a propaganda política recorram a este tempo verbal nas suas mensagens. Basta estar com um pouco de atenção para encontrar muitos outros exemplos mas mensagens dos cartazes e posters espalhados pelas nossas ruas e/ou redes sociais. Porque não partilha connosco os exemplos de uso do subjuntivo que encontrar?

 

Quanto ao letreiro criado pela Associação de Estudantes da Universidade de Coimbra no final do ano 2021, para reivindicar direitos que — sob o seu ponto de vista — foram ameaçados pela pandemia é curioso não apenas por usar a voz passiva do subjuntivo futuro “se nada for feito” mas também pelo tom sebastianista. É comum os portugueses pensarem que não são responsáveis pelos males do seu país e continuarem à espera de um “salvador” da pátria2 e não nos devia surpreender que os estudantes da universidade de Coimbra também achem que alguém (que não eles) tem de fazer alguma coisa para os “salvar” da perdição que se avizinha mas não deixa de ser algo preocupantes que os nossos  jovens universitários  — supostamente no fulgor do seu idealismo — descartem a sua própria responsabilidade de mudança preferindo confiar essa tarefa a terceiros.

 

 

1 A primeira canção do álbum Paraíso lançado em 1997 chama-se “Haja o que Houver” (pode ouvi-la aqui). Outras expressões do mesmo tipo frequentemente usadas pelos portugueses são “aconteça o que acontecer” e digam o que disserem.”

2 Veja-se este programa de rádio datado de 23 de dezembro de 2021 https://observador.pt/2021/12/23/gouveia-e-melo-e-o-novo-d-sebastiao-ligue-910024185-e-entre-em-direto-no-contra-corrente-com-jose-manuel-fernandes/